O que é Circuito Tap?

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segunda-feira, 25 de maio de 2015

A História do Sapateado

  


A História do Sapateado
por Gisella Martins


Muito se fala sobre a história do sapateado, mas sua origem é o fato que causa grande controvérsia, justamente por parecer ter originado de vários lugares. A conclusão de inúmeras pesquisas nos leva a crer em três principais influências.

A primeira nos remete ao século V na Irlanda, onde os camponeses que usavam sapatos com solado de madeira para aquecer os pés, começaram a brincar com os sons que esses sapatos faziam. Criavam diversos ritmos, originando uma dança conhecida como Irish Jig.

Já na Inglaterra, durante a Revolução Industrial, os operários usavam sapatos de madeira para se protegerem do chão muito quente das fábricas. Nos intervalos de trabalho, os operários ingleses se divertiam com os sons produzidos por aquele sapato, criando uma nova dança chamada Lancashire Clog. Mais tarde os tamancos de madeira foram substituídos por medas de cobre presas aos sapatos de couro.

Outra influência também muito forte veio das danças africanas, que eram feitas pelos escravos em suas poucas horas de lazer. Alguns senhores feudais admiravam essas danças que uniam o trabalho dos pés descalços a movimentos do corpo, e usavam seus escravos para seu próprio entretenimento.

Entre os anos de 1909 e 1920, vários estilos musicais e de dança foram criados nos EUA como o “FOX TROT”, “TUKEY TROT” e o “LINDY HOP”, por exemplo. E com a chegada dos africanos e europeus na América do Norte, essa fusão de informações se uniu ao estilo musical americano que estava em alta, então começaram a surgir os sapatos com chapinhas de metal nas solas.

O Sapateado Americano se consolidou realmente no início da década de 20, quando foi criado o espetáculo “Shuffle Along”, onde 16 bailarinas executavam a mesma coreografia dando origem ao chamado “chorus line” e revolucionando os palcos da Broadway.

Desde então, até meados dos anos 40 o sapateado proliferou como uma febre nos Estados Unidos, espetáculos de Vaudeville, musicais da Broadway, casas de shows, clubes de jazz, em fim, estava por toda parte até nas ruas e esquinas de New Orleans ou do Harlem. Esta é uma vertente na história do sapateado desconhecida pelo grande público, onde grandes sapateadores se desafiavam e criavam seus estilos próprios dentro de uma mesma característica: os pés plantados quase que inteiramente no chão, então chamados de HOOFERS, os principais eram: Honi Coles, Cholly Atkins, Sandman Sims, Jymmy Slide, Steve Condos, Bunny Briggs, Arthur Duncan, The Nicholas Brothers e Sammy Davis Jr ; que apesar de espetaculares não conseguiam papéis em filmes ou musicais da Broadway.  

Mas onde entra Bill Bojangles nessa história? Bem, para a nova geração Bojangles não passa de um ilustre desconhecido, mas a verdade é que sua contribuição para o sapateado foi muito valiosa e específica: ele o levou para a  “meia ponta” , trazendo aos palcos uma leveza e uma clareza nos passos jamais vista na tradição dos hoofers que dançavam com os pés inteiros no chão. A pouca movimentação dos braços era notada em ambos os estilos, mas o gingado do corpo e o som preciso de Bojangles era ritmicamente perfeito e inconfundível.

Nasceu em 25 de Maio de 1878, em Richmond, Virgínia. Em 1898 foi para Nova Iorque tentar a vida de bailarino,mas sua vida por lá não foi nada fácil; Bojangles fez o que parecia impossível, quebrou a chamada “regra dos dois negros”, onde uma dupla de sapateadores negros interpretava situações consideradas “engraçadas” para uma platéia homogeneamente branca, sendo que, a humilhação da própria raça era o toque principal para despertar gargalhadas na platéia. Mas Bill Robinson era corajoso e fantástico, começou a subir ao palco sozinho, mas ainda em uma situação no mínimo inusitada pois, coisas estranhas aconteciam no show business. Quando os brancos começaram a admirar negros nos palcos, alguns artistas brancos ficaram sem trabalho, então passaram a se pintar de negro. Essa “fantasia” era muitas vezes reconhecida pela platéia, mas o que valia para eles era o estigma de ver um negro sapateando e divertindo-os. Ao mesmo tempo, para os negros era difícil conseguir trabalho em grandes teatros e casas de shows. Diante disso, Bojangles, que era negro, passou a se pintar de preto querendo parecer branco pintado de negro, dá pra entender porque esse tipo de coisa acontecia? Mas ele já estava preparando a grande surpresa. Em um show no Canadá, subiu ao palco pela primeira vez sem a tinta preta, sua elegância superou toda e qualquer expectativa, calando a boca do preconceito velado e fazendo desta turnê um verdadeiro sucesso.

Sem dúvida, Bojangles foi um divisor de águas, mas sua maior contribuição ao sapateado foi o estilo charmoso e a técnica precisa e apurada de dançar na “meia-ponta” . Era admirado até pelos Roofers, produzindo ritmos enlouquecedores e também admiráveis. Mas o estilo de Bill Bojangles Robinson estabeleceu claramente essas duas formas de sapatear.

Só aos 31 anos seu trabalho foi reconhecido e então contratado pela produção do show Blackbirds, onde apresentava um número em que subia e descia uma escada sapateando. Mais tarde esse seria o marco de sua carreira.

Com o sucesso de Blackbirds, Bojangles tornava-se cada vez mais respeitado no mundo dos espetáculos, passando a ser o primeiro negro a conquistar um papel na Broadway em 1930 com o musical BROWN BUDDIES. Também conquistou Hollywood (em 1932), onde liderou o primeiro casal inter-racial da história do cinema americano, contracenando com Shirley Temple, com apenas 7 anos na época, em “The Little Colonel” , a dupla se deu tão bem que protagonizaram mais três filmes: “Hooray for Love”, “The Littlest Rebel” e “Big Broadcast of 1936”.

Parecia que o racismo no cinema estava chegando ao fim, mas a realidade era outra, quando Eleanor Powell foi cogitada a dançar ao seu lado, esse projeto foi barrado pelas leis da época que não permitiam que um negro contracenasse com uma mulher branca.

Bojangles fez ao todo 14 filmes e era atração frequente do Cotton Club, sem contar os inúmeros shows da Broadway que participou nos anos seguintes. Morreu em 1949, coberto de glória e endividado, mas sua genialidade deve ser lembrada não só a cada 25 de maio, mas sempre que colocarmos um par de sapatos com chapinhas nos pés.

O racismo continuava presente e muito forte também na área artística dos EUA, o sapateado conquistou as telas do cinema, porém seus protagonistas eram dançarinos brancos, deixando para os negros os papéis secundários, mas ainda assim há de se reverenciar os grandes mestres que ajudaram a fortalecer esta cultura, com classe, elegância, versatilidade em unir o sapateado a outras técnicas como a dança de salão, o ballet clássico e a dança moderna; e sem dúvida  uma técnica apuradíssima, são eles: Fred Astaire, Ginger Rogers, Gene Kelly, Ann Muller, Donald O´Connor,  entre outros,  a  partir de 1933.

Nas décadas de 50 e 60 o sapateado sumiu do cenário cultural americano, as grandes formações musicais estavam sendo desfeitas porque seus integrantes rumavam para o combate: A SEGUNDA GUERRA MUNDIAL. A motivação dos jovens para ver sapateadores acompanhando as Big Bands estava esmorecendo e o gosto musical daquela época também estava mudando – era a explosão do ROCK´N ROLL.

Muitos achavam que o sapateado iria simplesmente morrer e levar com ele toda uma história. Mas nos anos 70 começou uma mobilização de alguns sapateadores com o objetivo de fazer essa arte “reviver”.

Pode-se dizer que Brenda Bufalino tem um papel fundamental nessa história, sua energia e determinação proporcionaram novos rumos ao TAP DANCE. Brenda foi parceira do lendário Honi Coles por muitos anos, e em 1978 criou a American Tap Dance Orchestra, uma companhia caracterizada por suas construções rítmicas interagindo diretamente com os músicos.

Juntamente com Brenda , GREGORY HINES deu sua valiosa contribuição para o retorno do sapateado aos palcos da Broadway. Gregory Hines ficou famoso no mundo inteiro contracenando com o bailarino Mikhail Baryshnikov em “O Sol da Meia Noite”, faleceu em 2003, vítima de câncer, mas deixou sua marca, a versatilidade, era tão maravilhoso com seu estilo hoofer como quando dançava no estilo tradicional em coreografias de Honi Coles, por exemplo. Gregory Hines também revelou outro grande talento, SAVION GLOVER, considerado um dos maiores sapateadores da atualidade. Desde então, a Broadway e os mestres da chamada “velha guarda” também vêm revelando nomes como: Van Porter, Jason Samuels Smith, Chloe Arnold, Jason Janas, Cintia Chamecki (brasileira radicada em NY), entre outros. Por isso temos certeza que essa arte não vai morrer, pois são desenvolvidos trabalhos sérios no mundo inteiro através de grandes companhias e professores que formam seus alunos.


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